Após protestos, deputados federais arquivam PEC 37 por ampla maioria nesta terça
Os deputados federais derrubaram na noite desta terça-feira (25),
em decisão quase unânime, o Projeto de Emenda Constitucional número 37/2011,
conhecido como PEC 37, de autoria do deputado federal e delegado Lourival
Mendes (PT do B-MA). A matéria era uma das propostas polêmicas em tramitação no
Congresso Nacional que estavam na mira de protestos na onda de manifestações
pelo Brasil.
Conhecida também como "PEC da Impunidade", a medida
retiraria o poder de investigação dos MPEs (Ministérios Públicos estaduais) e
do MPU (Ministério Público da União). Bancadas inteiras de partidos como PT,
PPS, PTB, PSDB e PSDB votaram pela rejeição da PEC.
A
votação foi acompanhada por promotores de Justiça presentes
às galerias da Câmara com gritos de "rejeita!" aos parlamentares.
Durante os debates relativos à votação da PEC, o presidente
da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), destacou que a proposta foi
pautada em plenário por acordo fechado entre todos os líderes partidários.
"A PEC está sendo votada por decisão unânime de todos os líderes, foi
decidido por todos os líderes, que poderiam ter optado por adiar, mas decidiram
votar esta noite e assim está acontecendo", declarou.
A
manifestação foi uma resposta ao líder do PSOL, deputado Ivan Valente (SP), que
havia dito anteriormente que "a maioria dos deputados era a favor da PEC,
tanto que ela foi aprovada [em
sua admissibilidade] pela Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania" e que havia sido o "clamor das ruas" que fez com que
o tema fosse pautado pelo Plenário. Ele anunciou que os três deputados do
partido votarão contra a PEC.
O líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO), argumentou na
mesma linha do presidente e disse que todos os líderes partidários foram
"sensíveis à argumentação" e puderam "ponderar com suas
bancadas, mostrar a necessidade da rejeição da PEC, sem ter que crucificar quem
quer que seja, sem ter que denegrir a trajetória de nenhum parlamentar".
O
que é a PEC 37 Como projeto de emenda constitucional, seu objetivo era alterar
a Constituição.
Caso isso aconteça, com a inclusão de um parágrafo ao artigo 144 da Carta, a
PEC 37, em nível nacional, impediria investigações por parte do MPU e de todas
as suas divisões administrativas, como o Ministério Público Federal (MPF), o
Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Ministério Público Militar (MPM).
Entre as investigações que sairiam da alçada dos MPs estão as
que se referem a desvio de verbas, crime organizado, abusos cometidos por
agentes dos Estados e violações de direitos humanos.
De acordo com o trecho que se pretende incluir na Constitui,
"a apuração das infrações penais de que tratam os parágrafos 1º e 4º deste
artigo (144), incumbem privativamente às polícias federal e civis dos Estados e
do Distrito Federal, respectivamente".
Em resumo, se a PEC 37 for aprovada, somente as polícias
poderão fazer investigação criminal. Como todas as propostas de emenda à
Constituição, para entrar em vigor, a PEC 37 precisa ser aprovada em dois turnos,
tanto na Câmara quanto no Senado. Nas duas casas é exigida a aprovação por no
mínimo 3/5 do total de membros - 308 votos na Câmara e 49 no Senado.
Cenário atual A legislação brasileira confere à polícia a
tarefa de apurar infrações penais, mas em momento nenhum afirma que essa
atribuição é exclusiva da categoria policial. No caso do Ministério Público, a
Constituição não lhe dá explicitamente essa prerrogativa, mas tampouco lhe
proíbe. É nesse vácuo da legislação que defensores da PEC 37 tentam agora agir.
Os MPs fazem suas próprias investigações desde 2007,
amparados em uma resolução do Conselho Nacional do Ministério Público. Desde
então, a investigação criminal deixou de ser feita exclusivamente pela polícia,
e os procuradores do MPU passaram também a se dedicar ao combate a corrupção,
uma atribuição até então exclusiva da Polícia Federal.
Quem defende a PEC 37 Os deputados e criminalistas que são
favoráveis à aprovação do projeto defendem que, além da investigação criminal
não estar elencada na Constituição como competência do Ministério Publico, a
investigação feita pelos órgãos ministeriais acabaria fazendo com que diversos
processos fossem depois questionados nos tribunais superiores.
Os
questionamentos se apoiam na justificativa de que os processos estariam
viciados, já que a investigação estaria sendo conduzida por um órgão que é
parte na ação e, por isso, teria interesse no
seu desfecho.
O grupo mais expressivo dos defensores da PEC 37 é o Conselho
Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Além dele existem diversas
entidade ligadas a delegados de polícia. São entidades locais, porém a mais
expressiva e em nível nacional é a Associação dos Delegados de Polícia do
Brasil (Adepol)
Quem é contra a PEC 37 Os Ministérios Públicos ganharam o
apoio de diversas organizações para lançar a campanha "Brasil contra a
impunidade", acusando a proposta de beneficiar criminosos.
Utilizando dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os
contrários à PEC 37 alegam que apenas 11% das ocorrências sobre crimes comuns
são convertidos em investigações policiais, e, no caso dos homicídios, somente
8% são apurados.
Ao mesmo tempo, apontam que graças ao trabalho do Ministério
Público Federal foram propostas 15 mil ações penais entre 2010 e 2013. Se tais
casos fossem repassados à Polícia Federal, os crimes poderiam não ser julgados.
Eles acabariam prescritos caso as investigações não se concluíssem a tempo.
Estão contra a aprovação a Associação Nacional dos Membros do
Ministério Público (Conamp), o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais (CNPG),
a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), a Associação
Nacional do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (AMPDFT), a
Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) e a Associação Nacional
do Ministério Público Militar (ANMPM).
UOL
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