Em Santa Luzia, série Fenômenos Eleitorais mostra ex-aliado que venceu dinastia de 40 anos dos Bento de Morais
A série de reportagens
apresentando fenômenos eleitorais nas eleições municipais deste ano na região
Nordeste realizada pelo blog do Magno Martins, de Pernambuco, em parceria
com o Portal MaisPB, mostra, Zezé
Araújo, do PMDB, que rompeu com o grupo do ex-senador Efraim Morais, do DEM, e
o deletou do poder depois de 42 anos de reinado em que a família se revezou no
comando da Prefeitura.
Portal MaisPB
Ex-aliado põe fim a dinastia
Morais
SANTA LUZIA (PB) –
Ex-senador da República e atual presidente do DEM paraibano, Efraim Morais
assistiu a sua derrocada nas eleições deste ano em Santa Luzia, principal
reduto eleitoral da família no Sertão do Seridó, a 260 km de João Pessoa.
Com a chibata nas mãos no município há mais de 40 anos, o democrata
perde a Prefeitura a partir de janeiro de 2017 para um ex-aliado, a
quem negou apoio dentro do grupo e subestimou seu cacife eleitoral: o atual
vice-prefeito José Alexandre de Araújo, o Zezé (PMDB).
Sabendo que sofreria uma rasteira
da raposa política de Santa Luzia, cujo viés passa pela indicação de parentes
para governar o município – e isso vem desde 1982 – Zezé rompeu com o prefeito
Ademir Moraes, primo de Efraim, recentemente filiado ao PSDB. Seguindo
orientações do ex-senador, Ademir apoiou a candidatura do vereador José Jackson
dos Santos (DEM), mas não fez o sucessor. Zezé bateu o adversário por uma
frente de 924 votos. Teve 4.955 votos (52,45%) contra 4.031 votos (42,67%) do
democrata.
Candidato da terceira via, o
petista Professor Joselito teve apenas 461 votos, correspondente a 4,88% dos
votos válidos. Para se consagrar nas urnas, Zezé, entretanto, contou com o
apoio e uma estratégia fundamental comandada pelo líder politico Francisco
Seraphico Ferraz da Nóbrega, conhecido como Chicão, cujo pai Francisco Nóbrega
foi deputado estadual na década de 1960.
Zezé recusa a pecha de traidor.
Ressalta que nunca pertenceu ao grupo de Efraim Morais. “Na verdade, minha
história política está relacionada ao ex-líder Antônio Ivo de Medeiros”, diz o
prefeito eleito, separando, assim, o joio do trigo. “O fato de ter sido vice do
atual prefeito não significa dizer que estou ou tinha ligações com o
ex-senador. Na verdade, eu sempre apoiei candidatos ligados a ele, mas a partir
da eleição de deputado em 2014 não fiquei com seus candidatos”, afirmou,
referindo-se ao fato de não ter apoiado Efraim Filho para deputado federal, mas
sim Pedro Cunha Lima (PSDB), filho do senador Cássio Cunha Lima (PSDB).
Para firmar sua candidatura de
enfrentamento ao grupo do ex-senador, Zezé convenceu Chicão, que havia
disputado sem sucesso a Prefeitura por três eleições, a ser o seu vice. “A
nossa união se deu através de uma pesquisa em que apontava que eu seria mais
competitivo, mas a presença de Chicão na vice foi fundamental”, diz Zezé,
adiantando que, ao contrário do que ocorre hoje com ele – um vice
decorativo – Chicão terá força e atribuições em seu governo.
Além de destruir o castelo de
Efraim, Zezé reelegeu o filho Thiago Araújo, de apenas 24 anos, pelo PSD, para
a Câmara de Vereadores. Foi o quarto mais votado entre os onze vereadores
eleitos. Sem papas na língua, o jovem diz que o grupo Efraim se negou a apoiar
seu pai por ele não ser um político submisso. “Efraim sabia que não ia mandar
como manda hoje e mandou a vida inteira na Prefeitura. Papai é um político
independente”, afirmou.
De fato, o que pesou para o
ex-senador não engolir a candidatura de Zezé foi não ter ele DNA Morais. Em
quase 40 anos no poder, que começou com o pai prefeito, Efraim já elegeu tios,
primos e agregados. Ademir Moraes, o atual mandatário, só passou no teste por
ser primo legítimo. “Aqui, colocamos um ponto final numa dinastia”, desaba o
prefeito eleito. Para ele, o grupo Moraes tem serviços relevantes prestados ao
município.
“Não vou negar nunca que Efraim e
seu grupo, que inclui hoje o filho Efraim Morais na cabeça como deputado
federal, não trouxeram benefícios ao município, mas isso se deu lá atrás. De
uns tempos para cá, seu poder de influência foi bastante reduzido”, afirma. Um
exemplo disso, no seu entender, é a instalação de um campus universitário na
vizinha cidade de Picuí. “Perdemos também a oportunidade de termos um instituto
federal técnico por falta de força política”, acrescenta.
Quando assumir em janeiro, Zezé terá uma herança maldita passada pelo grupo Efraim. Entre os problemas que mais lhe tiram o sono está o embargo da usina de tratamento de lixo pelo Ministério Público depois de mais de R$ 500 mil serem liberados e não se sabe terem sido aplicados verdadeiramente. Na folha, o prefeito tem atrasado o pagamento dos inativos e há excesso de gente contratada por causa das eleições.
Quando assumir em janeiro, Zezé terá uma herança maldita passada pelo grupo Efraim. Entre os problemas que mais lhe tiram o sono está o embargo da usina de tratamento de lixo pelo Ministério Público depois de mais de R$ 500 mil serem liberados e não se sabe terem sido aplicados verdadeiramente. Na folha, o prefeito tem atrasado o pagamento dos inativos e há excesso de gente contratada por causa das eleições.
“Eles fizeram de tudo para nos
derrotar. Enfrentamos a eleição do tostão contra o milhão”, diz Zezé, adiantando
que sua eleição foi uma resposta da população aos métodos de Efraim de fazer
política e ao desgaste do prefeito, acusado de ser manipulado pelo ex-senador e
de não ter criado uma política de geração de empregos e renda.
Figura popular em Santa Luzia, dono
do restaurante Quatro Estações na entrada da cidade, na BR-230, na saída para
Patos, “seu” Manoel comemora o fim da dinastia Moraes. “Foi a melhor coisa que
poderia ter acontecido para nós”, afirma, adiantando que a população está
bastante confiante no prefeito eleito. “Tinha que ter surgido um cabra macho,
com cheiro de povo feito Zezé para aposentar essa gente”, diz ele.
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