Crescem os riscos de São Mamede e o Vale ficarem totalmente sem água no ano que vem. Veja detalhado estudo sobre o assunto
A cidade de São Mamede e o Vale do Sabugi é hoje
totalmente abastecida pelo Açude de Mãe D'Água, assim como 28 outras
cidades da Paraíba e 3 do Rio Grande Norte. Todas estão ameaçadas de ficar
totalmente sem água a partir de março do ano que vem. Fernando Perisse,
coordenador da ONG Mutat vem alertando as cidades abastecidas por esse
manancial para os graves riscos que estão correndo.
Segundo Perisse, esse
risco foi confirmado pela ANA - Agencia Nacional de Águas em recente
reunião do Comitê da Bacia do Piranhas Açu realizada em Santa Luzia. "O
problema maior é que Mãe D'Água já está substituindo o açude de Coremas, que
entrou em colapso em outubro desse ano. Nessa mesma reunião a ANA
confirmou: o Plano B é Mãe D'Água. Não existe Plano C.", complementou.
Os dois açudes receberam 15
milhões de m³ no inverno passado e entraram em março com cerca de 100 milhões
de m³. Coremas já secou e Mãe D'Água está apenas com 39 milhões de m³, baixando
10 milhões mensalmente. Com esse ritmo, entrará em colapso em março.
Para alcançar o inverno de
2018 teria que receber 100 milhões de m³ no próximo inverno, 7 vezes mais do
que recebeu nesse último. Ocorre que as previsões de clima para o
próximo ano não apontam para essa probabilidade.
Na avaliação da ONG, se esse
açude também secar, os de São Gonçalo, Engenheiro Ávidos e Lagoa do
Arroz - que já estão quase secos -
deverão entrar rapidamente em colapso com a pressão dos
caminhões pipa para abastecer tanta gente. Para Perisse, "a gravidade
é maior porque não existem nos estados vizinhos açudes ainda com reservas
para abastecer cerca de 500 mil pessoas. Além disso, seria absolutamente
impossível abastecer tanta gente por pipas."
ENTENDA PORQUE OS GIGANTES
SECARAM
O Sistema Coremas/Mãe D'água
abastece através dos leitos dos Rios Piancó e Piranhas as Adutora de
Sabugi, que atende a 16 cidades, sendo Patos a maior delas, Pombal,
Paulista, Riacho dos Cavalos, Catolé do Rocha, São Bento, Brejo do Cruz
e Belém de Brejo do Cruz na Paraíba. No Rio Grande do Norte abastece
Jardim de Piranhas, São Fernando e Caicó.
SISTEMA COREMAS/MÃE D'ÁGUA
Municípios Abastecidos
Para abastecer essas cidades,
3.000 litros de água são lançados nos leitos dos rios por segundo. Uma
verdadeira cachoeira se forma a jusante do açude. Ocorre que o consumo total
dessas cidades é de apenas 650 litros por segundo. Cerca de 79% da água é
portanto desperdiçada com a infiltração no solo, evaporação e nos desvios para
a irrigação, hoje totalmente ilegal.
A PERENIZAÇÃO É
INSUSTENTÁVEL NAS SECAS
Esse sistema concebido para
perenizar os rios quando houvesse recargas substanciais dos
açudes, tornou-se totalmente insustentável após 5 anos de seca. Já deveria
ter sido construída uma adutora paralela ao rio, isolando a água para
atendimento humano da do demais usos. Infelizmente agora é que a ANA
elaborou um projeto básico e vai analisá-lo em uma reunião técnica no dia 6 de
dezembro.
Infelizmente não há tempo para
que essa adutora seja instalada antes que o colapso ocorra.
A PROPOSTA DA SOCIEDADE CIVIL
A ONG Mutat organizou um grupo de
profissionais de diversas áreas, juntamente com membros de movimentos populares
e buscou uma solução de emergência para evitar a tragédia que viria com a falta
de água total para meio milhão de pessoas.
Essa solução já foi encaminhada
às autoridades envolvidas com esse problema e compreende:
1. Antecipar o barramento do rio
de Jardim de Piranhas, onde está instalado, para Paulista logo depois da
captação de água de Catolé do Rocha e Riacho dos Cavalos.
2. Abastecer as 6 cidades que
ficam a jusante desse ponto com caminhões pipa com água captada no barramento.
Isso permitiria reduzir de 3.000 para 2.000 litros por segundo a vazão lançada
nos rios.
3. Construir uma adutora de
engate rápido com cerca de 30km, ligando Paulista a Pombal. O barramento do rio
seria antecipado para Pombal, permitindo a redução da vazão para apenas 1.000
litros por segundo.
Essas providências permitiriam
que a vida útil se alongasse para o final do ano, e com volume de chuvas esperado,
se chegaria ao inverno de 2018, quando está prevista inclusive a chegada das
águas da Transposição,
INTERLIGAR COM A TRANSPOSIÇÃO
Segundo Perisse, mesmo se
conseguindo salvar o açude no próximo ano, é necessária a construção da adutora
paralela ao rio. Inclusive, complementou, deve ser instalada uma Unidade de
Bombeamento na confluência dos rios Piancó e Piranhas em Pombal, para,
quando necessário, bombear as águas da Transposição para a Adutora
de Sabugi, aumentando a segurança hídrica para todas as cidades
por ela abastecidas.
Fonte - Fernando Perisse
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