FILHOS ESTRANHOS, MÃE ABANDONADA

A glória de um povo é o seu passado, isto porque antigas lições norteiam o presente e projeta com fadiga e esmero um futuro promissor. Sempre foi assim na história das sociedades tanto sagradas como profanas; mirar os saberes para alcançar o mundo luminoso da instrução com o propósito de construir uma civilização sábia e humanamente justa. O gênio disse: “só se ama mais aquilo que se conhece”. Você conhece São Mamede? Diga-me, lembra-se das bolandeiras (máquina utilizada para separar sementes) e dos vapores (denominação local dada a algum tipo de bolandeira) que povoavam o nosso município? Sabe alguma coisa sobre os minérios de pedras preciosas e semipreciosas que têm seu subsolo? Sabe algo sobre o ciclo dos engenhos que funcionavam durante seis meses produzindo mel e rapaduras? Sabe da existência das casas de farinha? “Severino Brito, Biu Brito”, nos anos 60, instalou aqui uma fabrica de sabão de boa qualidade, deu muitos empregos; visionário por índole e exímio empreendedor por convicção ainda instalou uma fábrica de confeitos (balas), nesta deu empregos para adultos e crianças. Já ouviu falar da “Araújo Rique”, sabe por que ela fechou? Quando a “SANBRA” foi embora onde você estava? Você se manifestou quando a “CLEILTON” resolveu partir? Por que você cruzou os braços com a falência da “CARIOCA”? Você foi fraco demais quando viu usurparem a CORSAME e nada fez para impedir. Depois permitiu que o seu patrimônio fosse vendido para estranhos e estes o mantém sob a sombra de melão-de-São-Caetano – frase do Frade vidente. Convém observar que o apotegma do Frade espelha muito bem a nossa realidade, porque justifica os meios e os fins sendo ele (o apotegma) profundamente filosófico e verdadeiramente atual; tentaremos traduzi-lo para facilitar a compreensão. O melão-de-são-caetano é uma planta brasileira, cujos frutos, pequenos e piriformes, são avermelhados e muito doces, segundo Aurélio. É uma planta trepadeira muito freqüente em cercas, latadas, na copa das arvores, escombros e principalmente em construções velhas ou abandonadas. Quando essa planta se instala nas cercas, cria-se uma espécie de uma esteira bem trançada com seus ramos, que embora frágeis, mas muito densos, formando quase uma parede. Nas latadas está sempre sobre o teto se entrelaçando com as palhas, tornando mais compacta a cobertura. Na copa das arvores forma uma tela que impede a entrada dos raios solar, provocando a queda das folhas desnudando-a, tornando-a estéril, com aspecto de morte e sem prosperidade em sua volta. Nos escombros a representação do caos; nas construções velhas ou abandonadas a sugestão do descaso, da inércia, enfim da desconstrução do futuro, da vida. Você conhece alguma coisa que esteja sob a sombra de melão-de-são-caetano em São Mamede? Então, recuperar a autoestima de uma sociedade totalmente fragmentada por ideologias absurdas e argumentos psicologicamente clientelistas e ainda, conter um gerenciamento estrangulado e preparado para viver o imobilismo indolente é preciso: suscitar um poderoso impacto social que imploda literalmente toda estrutura retrógada e decadente que insiste eternizar-se. Portanto, se não olharmos para o nosso passado glorioso e dele tirarmos os ensinamentos meritórios para edificarmos o nosso futuro, com certeza seremos taxados de filhos estranhos para uma mãe abandonada.

Por Mario Bento.

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabens o blog pelo otimo artigo, mostra a verdadeira realudade de uma certa cidade.

Anônimo disse...

Que artigo otimo arrepia a todos.....eita que cada dia este pequeno grande blog alerta e abre o olho dos saomamedenses.

Anônimo disse...

Espetacular as palavras de Mário Bento.

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