Alienação Religioso no âmbito cristão por Padre Djacy Brasileiro.
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O cristianismo verdadeiro,
libertador, puro, compromissado com as causas sociais, com os pobres, os
excluídos, os injustiçados, com a vida do povo de Deus, está cedendo espaço
para um cristianismo platônico, a - histórico, estéril e inócuo. Agora é uma vivência
de fé extremamente conservadora, alienante, reacionária. Longe daquele
cristianismo libertário idealizado por Jesus, que vendo a multidão faminta
falara: “Tenho pena deste povo, porque é como ovelhas sem pastor” ou, senão,
“eu vim para que todos tenham vida”.
Estão descaracterizando o
evangelho de um Jesus que visava libertar os pobres das garras dos poderosos.
Aliás, Jesus é enviado para anunciar a Boa Nova aos pobres, os prediletos de
Deus, seu Pai.
Hoje, o que importa é anunciar um
Cristo milagreiro, que soluciona qualquer problema pessoal, que é capaz de
promover riquezas, curas, bem-estar pessoal etc. Há uma verdadeira dosagem de
alienação a partir do culto, da pregação da palavra e das músicas.
O culto ou a celebração gira em
torno de louvores, orações prolongadas desvinculadas da vida sofrida do povo,
aplausos, choros, lágrimas, pula pula, gritaria, chegando às vezes ao
histerismo. Até diria que esses eventos ditos religiosos funcionam muito mais
como terapia, como alivio de um espírito perturbado, estressado.
As leituras bíblicas são lidas e
interpretadas de modo bem adocicadas e alienantes, não levando em consideração
o contexto social, econômico e politico do momento. Até diria que as mesmas são
escolhidas de acordo com os problemas pessoais, funcionando mais como receita
espiritual. O caminho para os seus problemas ou dificuldades está aqui. Siga
esses versículos da Bíblia, e o resultado será positivo, quer na doença, nos
problemas de finanças etc. É a interpretação intimista, subjetivista, rasteira,
superficial, fundamentalista, da palavra de Deus.
As músicas, tão badaladas no
rádio e na TV,nem se fala, são totalmente alienantes, voltadas mais para o
emocionalismo, o subjetivismo. São verdadeiros anestésicos espirituais. São
alheias à realidade do povo sofredor, injustiçado, excluído. São musicas
desvinculadas do verdadeiro profetismo, não anunciam nem denunciam. Não
evangelizam. Funcionam mais como sedativos espirituais. O pior é que fazem um
sucesso danado. E toma fama e dinheiro.
E o mercado religioso, hein? Será
que para alguns, a religião cristã não se tornou fonte inesgotável de
enriquecimento? Ora, como é notório, muitos usam indevidamente,
irresponsavelmente, o nome de Jesus para ludibriar a consciência dos féis e,
com isso, explorá-los financeiramente. É o mercado religioso funcionando a todo
vapor. Há mercadoria para todo gosto.
Não vai demorar para ser criado o
banco do Senhor. Quem sabe, alguns ousados, metidos a cristãos, criarem o banco
de Jesus com os seguintes dizeres: aqui o seu investimento tem retorno:
milagres, curas, prosperidade, vida longa, felicidade e garantia de vida
eterna. Invista em nome do Senhor Jesus.
E o estrelato, hein? Quem conta
ou aparece não é Jesus, o profeta do reino, mas o famoso, a “estrela”. Agora
virou moda. Quer ficar famoso, conhecido? Grave um cd, escreva livros (livros
também alienantes), fale com elegância, use roupa especial, apareça na TV, e
pronto. O sucesso está garantido. Para isso, não falta marketing. A elite
“caridosa” adora aplaudir esses líderes. Para ela, esses são os verdadeiros
missionários de Deus.
O que tem de gente religiosa
famosa, brilhando nos palcos holofotizados, ganhando dinheiro à custa do nome
de Jesus não é brincadeira. As suas músicas e pregações são alienantes,
a-históricos. É um espiritualismo exacerbado fora de sério. O pior é que muita
gente adora essas “estrelas” da religião.
Onde fica a fé libertadora,
encarnada, historicizada? Onde, afinal, está o verdadeiro anúncio do Reino? O
Reino que era o núcleo central de toda pregação de Cristo? Não há mais
profetismo? O anúncio e a denuncia desapareceram? O Jesus histórico,
libertador, não é mais referencial? Seu Evangelho de anuncio e libertação não
vale para os tempos atuais?
Uma coisa é certa: o Jesus
profeta, libertador, desapareceu para dar lugar a um Jesus distante,
insensível, apático, passivo, descompromissado, que não está nem aí com o
clamor pungente dos sofridos e maltratados filhos de Deus. Logicamente, a
burguesia, a elite, a classe dominante, só tem a bater palmas para esse
cristianismo estéril, inócuo.
Para os que estão
descaracterizando o evangelho, vale estas palavras do grande teólogo da
Teologia da Libertação, Padre Jon Sobrino, no seu livro Descer da Cruz: “Jesus
morreu na cruz, não porque Deus exigia o seu sacrifício, mas “por anunciar a
esperança aos pobres e denunciar seus opressores” (p.318)”.
Padre Djacy Brasileiro, em 20 de
março de 2015.
E-mail: padredjacy@hotmail.com
Twitter: @Padredjacy
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