O ex-presidente da Odebrecht
Infraestrutura, Benedicto Júnior, afirmou em sua delação premiada aos
procuradores da Operação Lava Jato que se reuniu com Aécio Neves (PSDB-MG) para
tratar de um esquema de fraude em licitação na obra da Cidade Administrativa,
sede do governo mineiro, em Belo Horizonte, para favorecer grandes
empreiteiras. As informações são da edição desta quinta-feira do jornal Folha
de S. Paulo.
A reunião, segundo o delator,
ocorreu quando o tucano governava Minas Gerais. Benedicto Júnior, conhecido
como BJ, disse aos procuradores que, após o acerto, Aécio orientou as
construtoras a procurarem Oswaldo Borges da Costa Filho, conhecido como
Oswaldinho. De acordo com o depoimento de BJ, Oswaldinho e as empreiteiras
definiram o percentual de propina que seria repassado pelas empresas no
esquema.
Ainda segundo o delator, esses
valores ficaram entre 2,5% e 3% sobre o total dos contratos. Em nota, Aécio
repudiou o teor do relato de Benedicto Júnior e defendeu o fim do sigilo sobre
as delações “para que todo conteúdo seja de conhecimento público”.
Oswaldinho é colaborador das
campanhas do senador mineiro. Segundo o ex-executivo da Odebrecht foi o próprio
Aécio quem decidiu quais empresas participariam da licitação para a obra.
Projetada pelo arquiteto Oscar
Niemeyer (1907-2012), a Cidade Administrativa custou 2,1 bilhões de reais à
época. Foi inaugurada em 2010, último ano de Aécio como governador, sendo a
obra mais cara do tucano no governo de Minas. Niemeyer não queria que empresas
pequenas participassem da obra porque considerava o projeto extremamente
complexo e temia que empresas pequenas não conseguissem executá-lo.
Com Oswaldinho, as
empreiteiras negociariam, de acordo com Benedicto Júnior, como seriam feitos os
pagamentos. As informações fornecidas por BJ em sua delação premiada foram
confirmadas e complementadas pelos depoimentos do ex-diretor da Odebrecht em
Minas Sergio Neves.
Sergio Neves aparece nas
investigações como responsável por operacionalizar os repasses a Oswaldinho e é
ele quem detalha, na delação, os pagamentos a Aécio. O líder do consórcio, que
contou com Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão, a Odebrecht era responsável
por 60% da obra e construiu um dos três prédios que integram a Cidade
Administrativa – o Edifício Gerais.
Benedicto Júnior e Sérgio
Neves estão entre os 77 funcionários da Odebrecht que assinaram acordo de
colaboração com a Lava Jato. As delações
foram homologadas pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
Carmén Lúcia, e enviadas à Procuradoria-Geral da República, sob sigilo.
Recall de delações
Em razão das confissões de BJ
e Sergio Neves, procuradores da Lava Jato exigiram dos advogados da Andrade
Gutierrez, no fim de 2016, uma espécie de complementação das delações de seus
executivos, que eles chamam de “recall”.
Isso porque, segundo
investigadores, funcionários da Andrade não detalharam o esquema de propina na
Cidade Administrativa e em outras duas obras especificadas nas delações da
Odebrecht: a construção do Rodoanel e do Metrô, em São Paulo.
Nas próximas semanas, o
ex-presidente da AG Energia Flávio Barra e o ex-vice-presidente institucional
da empresa Flávio Machado serão ouvidos novamente em Curitiba. Outros
executivos da empresa também podem ser incluídos no “recall”.
Barra dará detalhes das obras
em São Paulo, enquanto Machado vai confirmar a versão que Oswaldinho cobrou
propina de 3% do valor dos contratos da Cidade Administrativa, o que chegaria a
cerca de 40 milhões de reais somente na parte da Andrade.
Fonte - VejaOnline
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