A prefeitura de São Mamede e o
Governo da Paraíba deverão realizar nos próximos dias 3 e 4 de novembro o I
FECUP – Festival Cultural de Picotes. Muito mais vontade e tesão dos
organizadores que propriamente condição de realizar uma ação desse porte num
tempo de crises, diluições e saturações. A história do Brasil anda muito mal
contada no Congresso Nacional e no Palácio da Alvorada. Todavia, nos rincões do
“Brasil Profundo” a guerrilha afetiva se mostra um verdadeiro exercício de
sobrevivência. Especialmente na área da produção cultural. É assim que
sobrevivem há anos as atividades da Acauã Produções Culturais, apenas para
citar um exemplo. Em Aparecida, as atividades partem da vontade de semear em tempos
áridos. A Acauã realiza permanentemente o plantio e a colheita, como quem não
faz chover, mas também não permite o extermínio dos pássaros.
Picotes é um dos lugares mágicos
da Paraíba. Uma vila do início do século XX localizada na zona rural de São Mamede,
no Alto Sertão da Paraíba. Já foi descoberta por gente de fora. Por exemplo, lá
foi gravado um comercial da Nissan que popularizou nacionalmente o local. Lá
foi gravado também um dos filmes que está na memória afetiva do audiovisual
brasileiro, “Cinema, Aspirinas e Urubus”. Mais recentemente o premiado filme
“Desertos” que tem no seu elenco ninguém menos que Lima Duarte. Praticamente
intocado, o local guarda muitas lendas. Histórias orais que sobrevivem ao tempo
num cerco de montanhas e pedras.
A atual gestão da prefeitura de São Mamede compreendeu rápido a importância do local. O jovem prefeito Umberto Jefferson assinou um decreto transformando o local em área de interesse social e do patrimônio cultural e histórico. Uma ação necessária de preservação da área. Em fina sintonia, imediatamente, a presidenta do IPHAEP – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba, iniciou um processo para o tombamento de Picotes. Ou seja, numa ação conjunta do poder público municipal e estadual, foi garantida a preservação de um lugar que já está conhecido como “Vila do Cinema Brasileiro” e que já começava a receber construções fora dos padrões originais.
Foi tudo muito rápido. Imediatamente o dinâmico Secretário de Cultura e Artes de São Mamede, Diogo Araújo, sugeriu a celebração dessas ações com um festival de cultura e arte. Não deu outra. Imediatamente foi conjugando parcerias e, juntamente com o Governo do Estado, em plena recessão econômica que atinge de forma vertiginosa os municípios e estados, foi planejado o I FECUP. São Mamede entra com o pé direito na produção cultural sertaneja, resguardando uma área de grande relevância histórica e apontando de forma muito segura para uma política de desenvolvimento do turismo e da economia criativa local.
Muitas histórias assombrosas cercam os arredores de Picotes. Como a história da “Galega do Queixão” que, dizem as boas línguas, azucrina a vida dos motoristas que se dirigem para Patos. Também o doido que morava numa loca, na montanha, e de lá ficava gritando. Seus ossos dizem, ainda estão por lá. Que tal uma busca? Segundo os moradores ainda hoje é possível escutar a voz do doido. Enfim, são muitas histórias. Pérolas do patrimônio imaterial que não tem passado despercebidas por historiadores como Thomas Bruno que registrou em artigo essas passagens. Um filão para o desenvolvimento da cultura na região do Vale do Sabugi, onde existe um vasto patrimônio arqueológico ainda a ser explorado.
A programação contará com audiovisual, rapel do Pico de Picotes, exposição do Clube do Fusca, consertos de filarmônicas, apresentações musicais, feira de artesanato e outras atividades explorando a potencialidade da região. Tudo muito simples e verdadeiro. Tudo muito bem articulado pelo secretário Diogo. Tudo ampliado com a vontade de quem sabe que é preciso resistir e realizar atividades que movimentem economicamente uma região de rica em gastronomia, artesanato e que ainda guarda as principais características das culturas tradicionais. Se você ainda não conhece Picotes, chegou a hora.
ParaibaJÁ
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