Câmara Federal aprova texto-base do projeto de Bolsonaro de privatização dos Correios
A Câmara dos Deputados aprovou,
nesta quinta-feira (5), o texto-base do Projeto de Lei (PL) 521/21 que trata da
privatização dos Correios. A proposta, encaminhada pelo governo em fevereiro,
autoriza a exploração de todos os serviços postais pela iniciativa privada.
Foram 286 votos a favor, 173 contra e duas abstenções. Os deputados analisam
agora destaques ao projeto.
O relator do projeto, Gil Cutrim (Republicanos-MA), apresentou parecer
favorável à privatização da empresa. Entre os pontos, o parecer diz que a
Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) será transformada em uma empresa de
economia mista, chamada de Correios do Brasil, e modifica a função da Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel), que também será responsável por regular
os serviços postais.
De acordo com o projeto, as tarifas terão reajustes anuais e poderão ser
diferenciadas geograficamente com base no custo do serviço, na renda dos
usuários e nos indicadores sociais. Para os serviços de cartas, o projeto prevê
uma tarifa social para atendimento dos usuários que não tenham condições
econômicas de pagar pelo serviço.
O relatório determina ainda exclusividade da nova empresa na operação dos
serviços postais pelo prazo de cinco anos e proíbe o fechamento de agências que
garantem serviço postal universal em áreas remotas. Esse prazo, segundo o
projeto, poderá ser prorrogado.
A exclusividade inclui serviços postais como atendimento, coleta, triagem,
transporte e distribuição no território nacional e expedição para o exterior de
cartas e cartões postais; serviço público de telegrama; e atendimento, coleta,
triagem, transporte e distribuição no território nacional e expedição para o
exterior de correspondência agrupada.
O parecer também determina que os trabalhadores da ECT não sejam demitidos pelo
período de 18 meses após a privatização. Eles poderão, entretanto, pedir
demissão voluntária até 180 dias após a desestatização. O funcionário que
decidir pelo desligamento terá direito a indenização de um ano de remuneração,
com manutenção do plano de saúde por 12 meses a partir do desligamento e
ingresso em um programa de requalificação profissional.
Votação
A votação da proposta gerou
polêmica no plenário, com discursos contra e a favor da privatização.
Na opinião do relator, a
privatização dará mais agilidade aos Correios e atrairá mais investimentos. “Na
verdade, a empresa carece de agilidade, de eficiência, de investimentos e de um
planejamento de futuro. Os números contábeis, financeiros e de efetividade na
prestação de serviço demonstram que os Correios brasileiros perderam o viço e
não conseguiram se modernizar diante dos desafios da revolução tecnológica que
estamos vivendo”, afirmou.
O deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) destacou que os Correios atingem 100% dos
municípios brasileiros, levando encomendas mesmo em lugares que não dão lucro
para a empresa. Para Freixo, com a privatização, a maioria das cidades vai ter
problemas para receber os serviços dos Correios, uma vez que, dos 5.570
municípios do país, apenas 324 dão lucro à empresa.
“Quero ver se a iniciativa privada, ao assumir, vai chegar aos municípios mais
pobres, que não dão lucro”, disse o parlamentar. “Essa votação é para criar um
monopólio, afastar os Correios na concorrência nas compras eletrônicas. O
correio é uma empresa lucrativa. Para modernizar os Correios basta ter vontade
política. Pegar o valor do próprio lucro que a empresa fornece e capacitar
melhor, fornecer mais. São mais de 90 mil funcionários capacitados, basta
capacitar mais”, enfatizou.
Alex Manente (Cidadania-SP) ressaltou que o Estado abrirá mão da empresa, mas
manterá o controle do setor por meio de uma agência reguladora. “Estamos nesse
projeto privatizando, mas dando ao Estado o poder de controle através da
agência reguladora, dando condições de ter de concorrência em um setor
fundamental.”
Já o deputado Orlando Silva (PcdoB-SP) lembrou que, na maioria dos países
desenvolvidos, o serviço postal é prestado pelo Estado e citou o exemplo dos
Estados Unidos, onde uma empresa pública presta o serviço.
Silva disse que, lá, o Estado tem atuado diretamente para induzir o
desenvolvimento econômico. “Aqui no Brasil estamos abrindo mão de instrumentos
que poderiam servir de suporte para a retomada do crescimento, sem falar na
qualidade dos serviços que a empresa oferece”, lamentou.
Edição: Nádia Franco / Agência
Brasil
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