segunda-feira, 23 de abril de 2012

11 cidades atingidas pela Seca, três estão no Vale do Sabugi


A reportagem do Correio percorreu 11 cidades para observar a situação das áreas atingidas pela seca. Em Areia de Baraúnas, no Sertão, também não existe sistema adutor e a água para população de quase 2 mil habitantes está sendo disponibilizada por meio de dois caminhões pipas, que não é o suficiente para atender a demanda.

A distribuição de água através de caminhões pipas acontece duas vezes na semana e a água é racionada. Os moradores aproveitam para garantir água para o resto da semana, enfrentando correria, brigas e constrangimentos, na luta por dois baldes de água. A agricultora José Ferreira Silva, 42, só conseguiu pegar um balde de água no dia em que o pipa fez a distribuição e por contadisso, ela ficará uma semana com a quantidade de água para beber e cozinhar. "Eu estava ocupada quando o pipa chegou ai quando corri com meus baldes, já não tinha mais quase nada e só deu pra encher um. Não sei como vamos passar uma semana com apenas uma lata d'água", lamentou.

A cidade será comtemplada com o sistema adutor Patos-Assunção, que disponibilizará água para seis cidades. As obras já estão em Areia de Baraúnas e a expectativa é de que o abastecimento tenha início no começo do próximo semestre. "Estamos terminando de concluir a caixa de bombas e depois disso, vai depender da Energisa para resolver a modificação da rede elétrica, que terá que passar pela estrada. O sistema adutor já está abastecendo as cidades de Quixaba, Cacimba de Areia e Passagem. Depois será a vez de Areia de Baraúnas, Salgadinho e Assunção", explicou.

A situação também é ainda mais crítica em Salgadinho, Assunção, São José do Sabugi, São Mamede, Teixeira, São José de Lagoa Tapada, Cacimba de Areia, Piancó, Santa Cruz, Santa Luzia e São Francisco.

Nestas localidades, os reservatórios que abastecem a zona rural e urbana, estão com volume de armazenamento abaixo de 20%, segundo dados da Agência Estadual de Gestão das Águas (Aesa). O menor volume é do açude São José IV, localizado na cidade de São José do Sabugi, no Seridó paraibano, que contem apenas 0,2% da capacidade total. Na cidade, adultos, crianças e idosos, que estão sofrendo com a seca, "duelam" diariamente para conseguir uma ‘lata d'água', distribuída por caminhões pipas.

Na cidade vizinha, São Mamede, é a população rural quem mais sofre. Os animais não estão resistindo à falta de pasto e os produtores rurais que não possuem condições de financeiras de comprar ração, estão sendo obrigado a vender "cabeças" de gado, para que eles não morram. Mesmo assim, já é possível encontrar carcaças de bois na região.

O agricultor Antônio Silva Santos, 59, que mora na comunidade rural de Angola, tenta manter seu rebanho e para isso, ele está racionando dinheiro que seria para alimentação da própria família, para poder comprar torta e farelo para os animais. Ele reclama que sem pastos no campo, o preço da ração está subindo e terá que vender animais para que eles não morram de fome.

Faepa: situação é grave

O agricultor José Gilmar da Silva, 39, que mora no Sitio Nicolau, também na zona rural de São Mamede, enfrenta a dor de ver seu gado morrer. Ele disse que nas últimas semanas, bois e vacas estão perdendo as forças e não conseguem mais caminhar pelo pasto vazio. "Essa é a minha melhor vaca que eu tenho no rebanho e agora ela está assim, sem conseguir andar, por conta das condições difíceis da seca, da falta de alimentação no pasto. Eu não tenho condições de dar mais ração e estou perdendo meu gado", desabafou José Gilmar.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faepa), Mario Borba afirma que a Paraíba está perdendo rebanho para outros Estados. Ele explicou que os produtores rurais que não tem mais condições de enfrentar os efeitos da seca, estão mandando o gado para fora do Estado, sobretudo para Ceará e Pernambuco. "Estão tirando o rebanho e até dando de ‘meia' a outros criadores de estados vizinhos, para poder garantir a sobrevivência deles. Há registros de que animais que custavam R$700 estão sendo vendidos por R$300 e se a situação climática não mudar, a tendência é ficar mais grave ainda. Uma situação dessas, só foi verificada nos anos 90", frisou Borba.

DANIEL MOTTA - Correio

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